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Um olhar detalhado e científico da variante delta

Por meio de perguntas e respostas, entenda qual é o potencial da variante delta em comparação com as demais variantes; pesquisas e análises apontam ainda qual é a eficácia das vacinas diante do subtipo mais infeccioso e letal do coronavírus

Os vírus passam por mutações a todo momento. Muitas são irrelevantes, mas algumas podem levar a maior transmissibilidade ou agressividade viral. Desde os primeiros casos de doença pelo coronavírus Sars-CoV-2, causador da covid-19, variantes têm sido descritas. A alfa foi detectada no Reino Unido; a beta, na África do Sul; a gama, no Brasil; e a delta, na Índia, no final de 2020. Esta última, também conhecida como B.1.617.2, tem mutações que acarretam maior transmissibilidade viral, ciclo de replicação mais rápido e redução potencial da ação das vacinas.

A delta está atualmente presente em diversos países, sendo a dominante em muitos, como os Estados Unidos, onde já é responsável por mais de 80% das infecções pelo novo coronavírus. Ao longo do texto, pretendemos abordar as principais dúvidas a respeito dessa variante.

1. Existem casos confirmados de infecção pela variante delta no Brasil?

Sim. Os primeiros relatos em território brasileiro foram em maio de 2021, em tripulantes de um navio ancorado na costa do estado do Maranhão. A variante gama (P.1) continua sendo a mais prevalente em todo o país. Segundo dados da Rede Genômica da Fiocruz, a P.1 é responsável por 64,1% dos genomas virais sequenciados pela Fundação, seguida pela delta, com 21,7%, e pela gama P.1.7, com 7,9%. Contudo, o número de infecções pela variante delta vem aumentando progressivamente, tendo atingido mil casos no mês de agosto e tornando-se a cepa mais prevalente no estado do Rio de Janeiro, onde já é responsável por 56,6% dos casos, segundo dados da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). No estado de São Paulo, um levantamento da Info Tracker, sistema de monitoramento da pandemia das universidades USP e Unesp, prevê aumento significativo do número de casos causado pela variante nas próximas semanas.

2. Quais são os principais sintomas de pacientes com infecção pela variante delta?

Os sintomas de pacientes infectados pela variante delta do Sars-CoV-2 são muito semelhantes aos de pacientes que foram contaminados pela forma original do coronavírus. Os mais comuns incluem febre, dor de cabeça, fadiga e coriza, sendo tosse e anosmia (perda de olfato) menos usuais ou com menor intensidade. A frequência de pacientes com poucos sintomas ou sintomas leves, similares aos de um resfriado comum, ou mesmo assintomáticos, é maior com a variante delta do que com a forma original do coronavírus.

3. A variante delta é mais agressiva em relação às outras formas virais?

Sim, os estudos realizados até agora têm demonstrado que a delta pode ser até 225% mais contagiosa que a forma original e as demais variantes, por conta de mutações na superfície da membrana do Sars-CoV-2, local de aderência do vírus às nossas células, e da maior replicação viral no organismo humano. A variante delta também está mais associada a casos graves de covid-19 em pacientes não vacinados, necessitando de maior tempo de internação, inclusive em unidades de terapia intensiva.

4. Quais são os perfis de pacientes acometidos pela variante delta?

Qualquer pessoa pode ser infectada e desenvolver doença por esta variante. Dados atuais têm mostrado que a delta compromete mais pacientes jovens, muitos deles abaixo dos 30 anos. A maior parte dos pacientes hospitalizados por infecções pela variante delta é de pessoas não vacinadas; nos Estados Unidos, 95 a 100% dos casos de covid-19 em internação hospitalar são de pacientes que não receberam imunizações contra a doença. Há pacientes que receberam o esquema completo de imunizações e se infectam com a variante delta do Sars-CoV-2, mas são menos frequentes e normalmente apresentam formas mais leves da doença.

5. A variante delta é mais perigosa para as crianças?

Esta variante é mais infectante e contagiosa que as demais. Por isso é de se esperar um número maior de casos em crianças, como tem sido observado nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, as crianças comumente são acometidas por efeitos mais leves da covid-19, na grande maioria das vezes sem necessidade de internação hospitalar. Até o momento, os dados disponíveis não apontam para uma maior gravidade da variante delta em crianças, mas é fundamental manter as medidas de proteção em casa e nas escolas.

6. As vacinas protegem contra as infecções pela variante delta?

Sim, estudos realizados com as vacinas atualmente disponíveis demonstram que os imunizantes exercem fator de proteção contra infecções ocasionadas pela variante delta, principalmente para formas graves e óbitos provocados pela covid-19. Embora a eficácia das imunizações seja menor em comparação com as demais variantes e com a forma original do vírus, as vacinas têm demonstrado bom fator protetor. Outro dado relevante é que indivíduos vacinados, embora ainda possam transmitir a variante delta, parecem ser infectantes por um período menor em comparação aos não vacinados.

Um estudo publicado recentemente em revista internacional de grande impacto demonstrou que a eficácia contra a delta após uma dose das vacinas da Pfizer e da AstraZeneca foi de cerca de 30% (para qualquer uma das vacinas), em comparação com uma eficácia de 49% para a variante alfa, do Reino Unido. Após duas doses, a eficácia da vacina da Pfizer foi de 93,7% para a variante alfa e de 88% para a delta; para a vacina da AstraZeneca, a eficácia após duas doses foi de 74,5% para a variante alfa e de 67% para a delta. Ou seja, a eficácia de qualquer uma dessas vacinas para a variante delta foi muito semelhante à da variante alfa, reforçando a necessidade da imunização da população.

Outro estudo recente, publicado na Science, demonstrou que a vacina da Moderna, à base de RNA-mensageiro, é capaz de induzir resposta imune contra todas as variantes após a 2ª dose, que persistiu após seis meses em todos os vacinados, apesar dos níveis menores de anticorpos. Por fim, uma pesquisa em preprint na revista Lancet, usando dados de vida real, demonstrou eficácia de 100% de vacinas à base de vírus inativados (como a Coronavac) para prevenção de óbitos decorrentes da variante delta; para prevenção de pneumonia viral, a eficácia das vacinas foi da ordem de 70%.

7. Como se proteger da variante delta?

Os cuidados devem ser os mesmos já adotados para a forma original e demais variantes. O uso de máscaras, higienização frequente das mãos, emprego do álcool em gel, manutenção do isolamento social e imunização com as vacinas disponíveis são medidas de proteção individuais e coletivas que ajudam a conter a disseminação de todas as formas do vírus. Estudos recentes têm demonstrado que a variante delta tem maior transmissibilidade que as demais formas virais em indivíduos vacinados, reforçando a importância da adoção das medidas de proteção.

Além disso, tendo em vista o maior número de casos graves, hospitalizações e óbitos em indivíduos não vacinados, o uso das imunizações é fundamental para a proteção individual e coletiva. Há luz no fim do túnel e estamos quase na saída. Mais do que nunca, é hora de mantermos as medidas de proteção e buscarmos imunização da maior parte da nossa população.

Publicado na coluna de agosto de 2021 da MIT Sloan Management Review Brasil.