5 min de leitura

Por que o profissional da saúde precisa de inovação?

Quanto mais conhecimento na área da tecnologia, maior a independência do profissional em todos os aspectos. É saudável que não se restrinja ao escopo de sua especialidade e mantenha-se sempre atualizado


Se você deseja se envolver com atividades de inovação e não sabe por onde começar, aqui vai uma sugestão: procure no Google por um tema, como inteligência artificial (IA), e suas aplicações na sua área de interesse; a partir daí, você terá diversas ideias para começar a explorar.

É claro que este é um exemplo raso, e que inovação vai muito além da IA, mas o ponto aqui é justamente mostrar que o importante é começar. A espera por condições ideais e pela criação da startup perfeita não combina com o conceito de inovação; neste caso, agilidade e adaptação são habilidades mais valiosas, pois estamos falando de um ambiente com mudanças aceleradas e de resultados frequentemente imprevisíveis.

A interação entre saúde e tecnologia tem sido um dos principais motores da inovação, e muitos profissionais de saúde deixam de começar a empreender pelo receio de não terem conhecimento técnico de tecnologia ou de linguagens de programação. Embora estas sejam qualidades importantes para qualquer setor, estão longe de serem obrigatórias para que um profissional fora da área de tecnologia possa participar de atividades de inovação. Existem diversas funções, por exemplo, que podem ser exercidas por profissionais de saúde na esfera tecnológica sem conhecimento técnico, como anotação e categorização de dados para treinamento de algoritmos de IA, curadoria de informações e seleção dos melhores programas e soluções e validação prática dos resultados obtidos. Além disso, os projetos de tecnologia demandam pessoas com diversas outras habilidades e competências, sejam elas técnicas, relacionadas à área de atuação do profissional de saúde, ou nos campos da gestão, planejamento, negociações comerciais e marketing.

Muitos compartilham da opinião de que qualquer pessoa se beneficiaria ao aprender um pouco mais sobre tecnologia ou programação. Os ganhos vão desde entender a explicação sobre uma ferramenta, passando pela automatização de tarefas básicas indo até a criação de programas complexos. Pode parecer algo muito distante para quem cursou uma carreira na saúde e não teve um passado ligado à informática, mas é sempre o momento para aprender novas habilidades. Há diversas informações de qualidade na internet sobre o tema, artigos e livros excelentes em tecnologia e inovação na saúde, e várias aulas e podcasts sobre o tema. Neste ponto, a atitude inovadora se mostra um atributo essencial, pois basta o profissional de saúde ter vontade de aprender e curiosidade para que dê os primeiros passos rumo à proficiência em uma nova habilidade.

Para os afeitos a programação, é muito empolgante escrever a primeira linha de código e começar a gerar os primeiros resultados. Seguindo os costumes dos aficionados por tecnologia, o comando inicial bem-sucedido geralmente faz com que a expressão “Hello, world!” (Olá, mundo!) apareça na tela. O caminho em tecnologia, porém, é repleto de altos e baixos, alternando momentos de autoconfiança elevada com fases de desespero, em que nenhum código ou função parece funcionar. O ideal é manter a constância, insistir no aprendizado, e evoluir continuamente.

Existe também a possibilidade de o profissional da saúde se aprofundar em outros aspectos técnicos relacionados à inovação em saúde. Quanto mais conhecimento na área, maior a independência do profissional, que pode passar a liderar a criação de produtos, como modelos de IA e outros tipos de software em saúde, e trabalhar mais próximo a profissionais de outras áreas e domínios. Em grandes companhias, a capacidade técnica possibilita que o profissional assuma projetos mais complexos, e consequentemente receba maior visibilidade. Já os empreendedores podem desenvolver e acelerar o crescimento de suas empresas acumulando funções distintas no início, atuando na gestão, marketing, vendas e desenvolvimento.

Os projetos de inovação, em geral, tendem a ser mais eficientes quando executados por equipes multidisciplinares. Cada carreira tem suas particularidades, e são as diferentes visões que se somam e aumentam a efetividade do grupo. O profissional que sabe o que está acontecendo de forma mais ampla pode agregar muito mais valor à sua equipe, integrando seu conhecimento em saúde e calibrando suas sugestões e estratégias conforme as necessidades de cada tarefa.

O mundo das startups é uma fonte inesgotável de inovações. Por ser um ambiente onde o risco é algo natural, é nesse universo que surgem as ideias mais mirabolantes. E são justamente essas ideias que vencem barreiras tidas como intransponíveis. Vivendo o sistema de saúde e vendo como ele funciona por dentro, o profissional que deseja ser inovador tem obrigação de pelo menos pensar em soluções. Tendo um problema e uma ideia, basta motivação para que uma startup tenha início. Por entender sobre a área da saúde, os profissionais do setor conhecem nuances e detalhes que se tornam vantagens competitivas no mundo dos negócios.

É saudável que o profissional não se restrinja ao escopo de sua área, que tende a se estreitar a cada subespecialidade. Leituras sobre economia, cultura, tecnologia e negócios conferem o poder de observação por óticas diferentes, e aumentam a bagagem de ideias, combinando o conhecimento já adquirido com novas habilidades e interesses. Cada intersecção entre saúde e outras áreas traz aspectos únicos, que são combustível para a inovação. Neste terreno fértil, é grande a probabilidade de o profissional encontrar maior satisfação para a sua carreira. A atitude inovadora também pode funcionar como trampolim e impulsioná-lo a pontos ainda mais altos. Aqueles com espírito inovador, mesmo sem experiência, podem se dedicar a absorver as técnicas mais recentes.

A inovação tem papel crucial na manutenção da afinidade entre o profissional e a saúde, sendo que ao longo de uma carreira manter-se atualizado é saudável para todos. Essa tarefa exige esforço contínuo, e nem sempre se trata de algo prazeroso. Contudo, quando somos expostos a projetos que acreditamos ter o potencial de melhorar o status quo, não há quem não se entusiasme.

Artigo escrito em parceria com Léo Max Feuerschuette Neto, médico radiologista, consultor de inovação e membro do laboratório de inteligência artificial da Dasa. Publicado na coluna de abril de 2023 na MIT Sloan Management Review Brasil.