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Ciência e técnicas aplicadas no cenário atual de testes de covid-19

Após dois anos de pandemia, milhares de pessoas ainda têm dúvidas sobre a eficácia dos testes de covid-19, principalmente num cenário de alta de casos e de ampliação da cobertura vacinal; a ciência, nossa aliada, explica cada tipo de exame

Com o avanço da pandemia de covid-19 no Brasil e no mundo, efeito de novas ondas decorrentes de variantes do vírus SARS-Cov-2, mostra-se cada vez mais importante o conhecimento técnico e científico sobre os testes diagnósticos disponíveis, e a forma como se comportam no contexto atual. O mesmo pode ser dito sobre a relevância no aumento da disponibilidade de vacinas e, consequentemente, sobre a expansão do número de indivíduos vacinados.

É inegável, e consenso entre estudiosos e profissionais do meio, que a melhor forma de combater a expansão do vírus é a vacinação do maior número possível de indivíduos, mas também já está claro que a utilização adequada de testes diagnósticos tem papel fundamental nesse cenário. Com o objetivo de reduzir a circulação do vírus e interromper a cadeia de transmissão, a ampliação da testagem na população permite isolar, com segurança, casos suspeitos ou confirmados e deve ser considerada uma prioridade.

Mesmo tendo essa certeza, a utilização adequada dos testes disponíveis ainda pode gerar dúvidas e deve considerar alguns aspectos importantes, como, por exemplo, o objetivo da testagem, o tempo de sintomas ou suspeita de infecção e o tipo de material a ser coletado.

De maneira geral, os testes podem ser divididos entre os que detectam diretamente o vírus e os que revelam anticorpos produzidos contra ele. O padrão ouro, ou referência, para o diagnóstico laboratorial da covid-19 permanece sendo o teste RT-PCR (do inglês “reação em cadeia de polimerase com transcrição reversa”).

Testes moleculares

O exame de RT-PCR tem por objetivo a detecção de fragmentos do RNA viral na amostra, sendo utilizado principalmente para isolamento de casos confirmados, sintomáticos ou não, com coleta da amostra devendo ser realizada, preferencialmente, entre o 3º. e o 7º. dia após o surgimento dos sintomas ou suspeita de infecção.

O RT-PCR é o teste com maior sensibilidade (comumente > 95%) e especificidade, garantindo diagnóstico nos primeiros dias de sintomas e com baixíssima interferência de outros tipos de vírus no resultado. Pode ser realizado em amostras de nasofaringe, do trato respiratório inferior e de saliva e o tempo de resultado varia, na maioria dos laboratórios, de seis a 48 horas.

Além do RT-PCR, outro teste molecular disponível e que pode ser facilmente encontrado é o RT-LAMP. Esse exame difere do RT-PCR pela forma de amplificação do material genético do SARS-Cov-2, que é realizada de maneira isotérmica e não em ciclos variáveis de temperatura. É um teste molecular rápido, com tempo de resultado geralmente inferior a uma hora, empregando o mesmo tipo de amostra e com as mesmas indicações do RT-PCR, mas com sensibilidade ligeiramente inferior. Os testes moleculares para detecção do coronavírus também podem ser feitos em associação com exames que detectam outros tipos de vírus respiratórios, tais como influenza A e B e vírus sincicial respiratório.

Outros tipos de testes

Além dos testes moleculares, estão disponíveis os exames para detecção de antígeno, que são utilizados em larga escala e apresentam resultados rápidos: cerca de 15 a 20 minutos, na grande maioria dos casos.

O teste rápido de antígeno (pequenas frações de proteína da estrutura do vírus) para covid-19 utiliza amostra nasal ou de nasofaringe, e está recomendado para aplicação a partir do 1º e até o 7º dia após o início dos sintomas. É indicado também para diagnóstico de assintomáticos ou contactantes de casos confirmados, e ainda para triagem de pessoas com histórico de exposição recente ao vírus.

O principal objetivo de utilização desse tipo de exame é garantir um resultado rápido e possibilitar o isolamento dos casos positivos, interrompendo assim a cadeia de transmissão.

Com o objetivo de verificar exposição prévia ao vírus, estão disponíveis os testes de anticorpo, ou sorológicos. Esses exames devem ser utilizados com cautela, pois não apresentam finalidade diagnóstica. Em decorrência do tempo de resposta imunológica necessário para produção dessas substâncias em quantidades detectáveis pelo organismo, esses exames não permitem o isolamento eficiente.

Os testes são recomendados para realização, preferencialmente, após 21 dias de suspeita de contato com o vírus ou início de sintomas, detectando imunoglobulinas das classes IgA, IgM, IgG ou anticorpos totais; sendo os dois últimos os mais comuns. Embora apresente ótima sensibilidade analítica, e consequente capacidade de detecção, a pesquisa por anticorpos totais não permite distinguir as diferentes classes de anticorpos detectadas.

Anticorpos baseados em RBD

A pesquisa de anticorpos do tipo IgG tem se mostrado a mais relevante, sobretudo após o surgimento de uma nova classe de testes diagnósticos que estão voltados para detecção de anticorpos que reagem com a porção do vírus capaz de se ligar à célula humana — uma região da proteína S, na espícula da estrutura viral, que contém o receptor de ligação entre as duas células (RBD).

Diferente dos demais testes sorológicos que se baseiam na detecção de anticorpos contra diversos antígenos da estrutura viral, os exames desenvolvidos para detecção de anticorpos baseados em RBD apresentam menor possibilidade de interferência com outros anticorpos e maior sensibilidade clínica.

Por estarem voltados para a porção de ligação do vírus à célula humana, os anticorpos anti-RBD apresentam correlação com os anticorpos capazes de neutralizar a ação do vírus, mas não garantem a efetividade, ou até mesmo a funcionalidade, dessa neutralização.

Testes e eficácia das vacinas

Com a expansão da cobertura vacinal, está sendo verificado uma ampliação na busca por esses tipos de testes, a fim de se identificar a efetividade ou não da imunização. O estímulo à produção de anticorpos é apenas um dos mecanismos pelos quais a vacina age no organismo, não se limitando a ele, e variando, individualmente, na forma e na quantidade de anticorpos produzidos.

Dessa forma, não há indicação da realização dos testes sorológicos para covid-19 com o objetivo de comprovar a eficácia vacinal. Esses testes devem ser utilizados, apenas, para avaliação da exposição prévia ao vírus; quer seja por adoecimento ou vacinação.

Este artigo foi escrito em parceria com o Diogo Coelho, farmacêutico bioquímico e gerente executivo de análises clínicas do Grupo Alliar. Publicado na coluna de fevereiro de 2022 da MIT Sloan Management Review Brasil.