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Covid-19: habemus vaccina, da eficácia aos efeitos colaterais

Você conhece a eficácia e os efeitos colaterais das principais vacinas desenvolvidas contra a covid-19? Neste artigo, analiso as informações científicas de imunizantes que estão sendo aplicados na população

Na coluna de janeiro, ficamos por dentro das etapas para desenvolvimento dos diversos tipos de vacinas que podem ser elaboradas contra agentes infecciosos. Neste mês, vamos aprender um pouco mais sobre as principais imunizações em utilização contra a Covid-19.

Os testes clínicos para vacinas contra a Covid-19 começaram poucas semanas após a eclosão dos primeiros casos, ainda no início de 2020. Algumas imunizações já completaram todas as fases dos ensaios, sem preocupações relevantes em termos de segurança, mas tiveram algum efeito local ou sistêmico, como febre, dor de cabeça, calafrios, cansaço e dores musculares.

Embora os resultados tenham sido promissores para todas as vacinas, muitas dúvidas persistem, como a duração da imunização conferida e os efeitos em indivíduos contaminados pelo novo coronavírus, tanto naqueles assintomáticos como nos sintomáticos.

Falaremos, a seguir, das características das principais imunizações disponíveis contra a Covid-19 neste momento, lembrando que são informações dinâmicas e em constante atualização. No site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é possível encontrar mais informações sobre as vacinas e o status das análises de registro e uso emergencial no Brasil.

Pfizer-BioNTech

Principais pontos da vacina (BNT162b2):

Um estudo randomizado em adultos sadios de 18 a 85 anos demonstrou resposta imune com a vacina semelhante à encontrada no plasma convalescente de pacientes que tiveram infecções assintomáticas ou moderadas pelo SARS-CoV-2. A resposta imune em pessoas acima de 65 anos foi um pouco menor, mas ainda comparável à de indivíduos com histórico da infecção.

Com relação à eficácia, um grande estudo de fase 3 demonstrou que a vacina preveniu quadros sintomáticos de Covid-19 em 95% dos indivíduos imunizados após sete dias da sua segunda dose. Dos quadros graves da doença, 90% deles ocorreram no grupo placebo.

Uma pesquisa recentemente conduzida no Centro Médico Sheba de Israel, publicada no dia 18 de fevereiro na revista médica The Lancet, mostrou redução precoce substancial nas infecções pelo Sars-CoV-2 e de COVID-19 sintomática após a primeira dose da vacina, dando suporte para atrasar a aplicação da segunda dose de forma a permitir uma cobertura maior da população com uma única aplicação.

Efeitos colaterais locais e sistêmicos foram relativamente comuns após a segunda dose da vacina, muitos deles de gravidade leve ou moderada. Os efeitos mais frequentes foram febre, cansaço, dor de cabeça e calafrios.

Moderna

Principais pontos da vacina (mRNA - 1273):

Uma das primeiras imunizações contra a Covid-19 a serem desenvolvidas, foi administrada em seres humanos apenas dois meses após a publicação do sequenciamento genético do novo coronavírus.

Resposta imune comparável à encontrada no plasma convalescente de indivíduos com infecção pregressa pelo novo coronavírus foi demonstrada em uma publicação com indivíduos de 18 a 55 anos de idade. Um outro estudo de fase 3 demonstrou eficácia da vacina de 94,1% na prevenção de quadros sintomáticos de Covid-19 após 14 dias da segunda dose, sendo um pouco menor (86,4%) em indivíduos com mais de 65 anos. Trinta casos da doença foram graves, todos eles no grupo placebo.

Efeitos colaterais locais e sistêmicos tiveram relação com a dose aplicada, sendo mais frequentes após a segunda aplicação. A maior parte foi leve ou moderada, sendo composta principalmente por febre, cansaço, dor de cabeça, mialgias e artralgias. Os efeitos colaterais foram menos frequentes em indivíduos de idade mais avançada e naqueles com histórico de infecção pregressa pelo coronavírus.

Oxford University, AstraZeneca e Serum Institute of India

Principais pontos da vacina (ChAdOx1 nCoV-19/AZD1222):

A vacina gerou resposta imune em indivíduos sadios de 18 a 55 anos em um estudo de fase 1/2, a partir de 28 dias da segunda dose, com títulos de anticorpos neutralizantes comparáveis aos do plasma convalescente de indivíduos com infecção pregressa pelo novo coronavírus.

Em um estudo randomizado de fase 2, a vacina teve eficácia de 70,4% na prevenção de doença sintomática após 14 dias da segunda dose. Um subgrupo menor de participantes recebeu, de forma inadvertida, uma dose menor da imunização na primeira aplicação e a eficácia da vacina neste subgrupo foi de 90%, em comparação com uma eficácia de 62,1% naqueles que receberam a dose integral.

Um outro estudo, ainda não publicado, demonstrou eficácia da vacina de 76% após 21 dias da primeira dose para prevenção de Covid-19 sintomática, inclusive sugerindo que uma única aplicação possa gerar proteção. Além disso, a pesquisa demonstrou que a aplicação de uma segunda dose depois de 12 semanas associou-se a uma maior eficácia da vacina em comparação ao grupo que a recebeu com menos de seis semanas, também sugerindo que a extensão do intervalo de tempo entre as doses para 12 semanas possa ser ainda mais benéfica.

Com relação a efeitos colaterais, cansaço, dor de cabeça e febre foram relativamente comuns. Houve dois casos de mielite transversa em um estudo de fase 2, um deles possivelmente relacionado à vacina e o outro sem causa conhecida, possivelmente sem associação com a imunização.

Janssen

Principais pontos da vacina (Ad26.COV2.S):

Um estudo de fase 1/2 evidenciou altas taxas de anticorpos neutralizantes após uma única dose em indivíduos sadios de 18 a 85 anos; uma segunda dose associou-se a aumento dos títulos neutralizantes. Outra pesquisa, de fase 3, demonstrou eficácia de 66% contra formas graves e moderadas de COVID-19 após 28 dias da imunização, tendo sido demonstrado algum fator protetor já a partir do 14º dia da imunização.

Efeitos colaterais locais e sistêmicos foram comuns, geralmente compostos por cefaleia, cansaço e mialgia.

Gam-COVID-Vac/Sputnik V (Gamaleya Institute)

Principais pontos da vacina:

Em um estudo não randomizado de fase 1/2, respostas imunes celular e humoral foram detectadas em todos os participantes. Segundo uma pesquisa de fase 3, ainda em andamento, a vacina teve 91,6% de eficácia para prevenir doença sintomática após 21 dias da 1ª. dose. Todos os casos graves de Covid-19 ocorreram no grupo placebo e nenhum efeito colateral grave foi relatado.

CoronaVac (Sinovac)

Principais pontos da vacina:

Em estudos randomizados de fase 1/2, a vacina mostrou-se segura e imunogênica. Os efeitos colaterais foram leves, compostos principalmente por cefaleia, mialgias, fadiga e dor local.

Para indivíduos infectados pelo SARS-CoV-2, a vacina pode ser aplicada após 7 dias sem sintomas agudos, com exceção de perda do paladar (ageusia) e do olfato (anosmia), pois são manifestações que tendem a prolongar-se por mais tempo.

Para mulheres com intenção de engravidar, a orientação é aguardar quatro semanas após o término do esquema completo de vacinação (duas doses).

Covaxin (Ocugen and Bharat Biotech)

Principais pontos da vacina:

O quadro abaixo resume as principais características das imunizações apresentadas nesta coluna. No quatro, o NS representa os pedidos de uso emergencial e definitivo ainda não solicitado:

Enfim, a chegada das vacinas é excelente notícia para todos que desejam retornar para as atividades cotidianas, contato com familiares e amigos e convívio social. Entretanto, mesmo com as vacinas, ainda é muito importante usarmos máscaras, praticarmos distanciamento social e mantermos as medidas de proteção e higiene, até que tenhamos grande parte da população imunizada. Continuemos otimistas e que boas novas sejam cada vez mais abundantes.

Publicado na coluna de março de 2021 da MIT Sloan Management Review Brasil.